MÁ ABSORÇÃO, MALABSORÇÃO, MABSORÇÃO
Todas as formas acima têm sido empregadas em textos médicos. Qual seria a mais recomendável?
À primeira vista parece ser uma questão simples, dependente do correto emprego de mal e mau. Como ensinam as gramáticas, mal é antônimo de bem e mau se opõe a bom. Em latim havia o substantivo malum, i, o advérbio male e o adjetivo malus, a, um, de que resultaram, em português, mal (substantivo), mal (advérbio) e mau (adjetivo).[1]
O substantivo é modificado pelo adjetivo, enquanto o advérbio modifica o verbo, o adjetivo e o próprio advérbio; por conseguinte, antes de absorção, que é palavra substantiva, deve ser usado um adjetivo e não um advérbio, ou seja má absorção e não mal absorção ou malabsorção. Entretanto, temos vários exemplos na língua portuguesa que fogem a esta regra, tais como malcriação, malformação, malquerença, malsonância, malversação, etc.
Na língua inglesa, muitos termos científicos se formaram com a anteposição de mal, à maneira de prefixo, significando imperfeição, defeito, alteração. Ex.; malformation, malnutrition, malocclusion, malrotation, maldigestion, malabsortion, malassimilation. Por influência da língua inglesa, maloclusão já é palavra consagrada em Odontologia.[2]
A forma malabsorção vem ganhando adeptos em nosso vocabulário médico também por influência da língua inglesa, na qual encontramos a maioria das publicações sobre o assunto. À força de ler malabsorption terminamos por aceitar malabsorção.
Os dicionários de língua portuguesa, inclusive os mais modernos, não registram malabsorção, nem mesmo o Vocabulário da Academia Brasileira de Letras, que prima por sua liberalidade em incorporar anglicismos ao nosso léxico.
O Prof. Martins Campos, autor de numerosas publicações sobre absorção intestinal, propôs, em 1965, a forma mabsorção, resultante da aglutinação das duas palavras, com elisão da primeira vogal. No seu entender "a nova palavra mabsorção, além de simplificar, evita a repetição do a".[3]
Uma pesquisa na Internet, realizada em 09/03/2003, revela-nos a ocorrência das três formas em uso, na seguinte proporção: [4]
Má
absorção (com e sem hífen)
1.430 vezes
Malabsorção
149 ²
Mabsorção
07 ²
Cabe à classe médica,
neste como em qualquer outro caso de terminologia médica, a decisão
final. A meu ver, a questão de usar ou não hífen,
vai depender do contexto da frase. Quando dizemos, por exemplo, que "nos
gastrectomizados à Billroth II existe má absorção
de ferro", devemos escrever má absorção sem hífen.
Ao nos referimos, entretanto, à "síndrome de má-absorção"
entendo que se deve usar hífen, pois, neste caso, trata-se de um
nome composto que designa uma síndrome bem definida em patologia
digestiva, tal como se encontra conceituada no Dicionário de
termos técnicos de medicina e saúde, de Luis Rey.[5]
Referências bilbiográficas
FARIA, Ernesto - Dicionário escolar latino-português,
5.ed. Rio de Janeiro, MEC/FENAME, 1975.
SCARTEZZINI, C. – Dicionário odontológico,
3. ed. Rio de Janeiro, Editora Científica, 1964.
3. CAMPOS, J.V.M. - Mabsorção intestinal.
In
DANI,
R., CASTRO, L. P. - Gastroenterologia Clínica. Rio de Janeiro, Guanabara
Koogan, 1988, p. 624.
4. INTERNET: http://www.google.com.br/.
Acesso em 09/03/2003.
5. REY, L. Dicionário de termos técnicos
de medicina e saúde. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan S.A., 1999.