PLACENTA
A placenta, com suas membranas,
era chamada em grego deútera, que quer dizer segunda,
seguinte, que vem depois. Esta idéia transladou-se ao latim na palavra
secundina.
Mondino (1270-1326), em seu Tratado de Anatomia, chamou-a pars
secundinae.[1]
De secundina,
em latim, deriva secundinas em espanhol e português, com o
sentido de placenta e seus anexos. A expulsão das secundinas após
o feto, no parto, constitui o secundamento.
Em outras línguas
ocidentais conservou-se a mesma ideia transmitida pela medicina
helênica. Assim, vamos deparar com as expressões secondamento,
em
italiano; arrière-faix, em francês; after-birth,
em
inglês; Nachgeburt, em alemão. Inclusive na linguagem
médica popular do Brasil a placenta e suas membranas são
chamadas companheiras ou derradeiras, sendo esta última
denominação oriunda de Portugal.[2]
Por influência da
medicina francesa o vocabulário médico português enriqueceu-se
com o termo delivramento, que é uma adaptação
do francês délivrance e que passou a ser usado como
sinônimo de secundamento na terminologia obstétrica.
A introdução do termo delivramento na língua
portuguesa data do século XIX, tendo sido o mesmo empregado
por Rocha Nazarem em seu livro Compilação de Doutrinas
Obstétricas, editado em Lisboa em 1843.[3]
A sinonímia de secundamento
inclui
ainda os termos decedura, dequitação
e dequitadura.
Decedura é termo arcaico, já encontrado no Elucidário
de Viterbo[4] e pouco empregado atualmente, enquanto dequitação
e
dequitadura
passaram a ser utilizados para designar o primeiro tempo do secundamento,
ou
seja, o descolamento da placenta.[5]
Dequitação
e
dequitadura
derivam do verbo dequitar, com o sentido de livrar-se de uma coisa
penosa.[6]
Como sinônimo de secundinas,
ou para nomear apenas os anexos da placenta, usa-se, também, o substantivo
feminino plural páreas, que os etimologistas aproximam do
verbo latino parere, parir.
A palavra placenta,
como termo médico, tem origem diversa. Deriva do grego plakoûta,
acusativo
de plakous, nome que se dava na Grécia a um bolo arredondado
e achatado.[1] A raiz plak,
do indo-europeu, indica forma
achatada.[7] Em latim placenta também tinha a acepção
de bolo chato.[8]
O nome da placenta só
aparece na nomenclatura anatômica no século XVI. Realdus Columbus
(1516-1559), discípulo de Vesalius, em seu livro De Re
Anatomica utilizou a expressão in modum orbicularis
placentae (a modo de um bolo redondo), Fallopius (1523-1562) chamou-a
de placenta uterina,[1] denominação
esta que se sobrepôs à de secundina, passando a merecer a
preferência dos anatomistas e obstetras.
Parece claro que a denominação
de placenta uterina resulta da forma e aspecto da mesma, quando
colocada em uma superfície plana, assemelhando-se a um bolo arredondado
e achatado.
O qualificativo uterina
tornou-se
desnecessário nas línguas modernas, porquanto a palavra placenta
passou
a ter uma única acepção, perdendo seu antigo significado.
Referências bibliográficas
1. SKINNER, Henry A.: The origin of medical terms, 2.ed.
Baltimore, Williams & Wilkins, 1961, p. 328.
2. SÃO PAULO, Fernando: Linguagem médica
popular no Brasil. Salvador, Itapuã, 1970, p. 111
3. BARBOSA, Plácido: Dicionário de terminologia
médica portuguesa. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1917.4.
VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de: Elucidário (edição
crítica). Porto, Liv. Civilização, 1983.
5. REZENDE, Jorge de: Obstetrícia, 5.ed. Rio de
Janeiro, Guanabara Koogan, 1987, p. 762-768.
6. NASCENTES, Antenor: Dicionário etimológico
da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1932.
7. WATKINS, Calvert: Indo-european roots. In MORRIS,
W. (Ed.): The american heritage dictionary of the english-language. Boston,
Houghton Mifflin Co., 1981, p. 1.535.
8. TORRINHA, Francisco: Dicionário latino-português,
3.ed. Porto, Gráficos Reunidos Ltda., 1942.