TESTÍCULO
Testículo provém
do latim testiculus, i, diminutivo de testis,
is,
cujo plural é testes, ium.
A palavra testis,
em latim, tem duplo significado: tanto quer dizer testemunha, como serve
para designar a gônada masculina. A associação semântica
da glândula sexual masculina com o ato de testemunhar tem sido admitida
por todos os filólogos e pesquisadores. Sendo diminutivo de testis,
os testículos seriam "pequenas testemunhas". Mas, de quê?
Várias interpretações
têm sido levantadas sobre essa questão. No Velho Testamento
encontramos, dentre os diferentes modos de se proceder a um juramento,
o gesto de colocar a mão embaixo da coxa do interlocutor. "Põe
agora a tua mão debaixo da minha coxa. Para que eu te faça
jurar pelo Senhor..."(Gen. 24. 2-3).
A prática de jurar
colocando a mão sob a coxa era "provavelmente uma invocação
à posteridade, que havia de sair de seus lombos, para cumprir o
prometido e vingar a sua violação".[1]
A Bíblia de Jerusalém
dá a seguinte interpretação: Trata-se de um "gesto
para tornar o juramento inquebrantável por um contato com as partes
vitais".[2] As mulheres e as crianças não eram admitidas
como testemunhas. As gônadas masculinas seriam, portanto, as testemunhas
do juramento proferido. Este fato não significa, evidentemente,
que em aramaico (língua primitiva dos hebreus) se utilizasse da
mesma palavra para gônadas e testemunhas, tal como em latim.
Em grego clássico,
que antecedeu ao latim, também não havia a mesma homonímia.
Testemunha denominava-se mártyr, enquanto os testículos
eram chamados de órkhis.[3] Deve ser assinalada, no
entanto, a semelhança existente entre as palavras gregas órkhis
testículo, e órkos, juramento. Teriam origem
comum?
De órkhis
derivam os termos médicos de uso corrente, como orquite, orquidectomia,
orquiorrafia, etc.
Não há qualquer
vínculo linguístico entre os termos usados em grego
e em latim para nomear as gônadas masculinas. Segundo Ernout &
Meillet, testis, em latim, é originário do
osco, língua falada na península itálica, antes do
latim.[4]
Outra explicação
que se dá para o duplo sentido de testis em latim
é de que a gônada masculina é "testemunha da virilidade",
como admite Corominas.[5]
Já no Dicionário
Morfológico da Língua Portuguesa encontra-se esta outra
interpretação: testis seriam "os que testemunhavam
a cópula dos recém-casados para atestar o casamento consumado".[6]
Para Skinner a aplicação
do termo testis para nomear as gônadas masculinas decorre
do fato de que entre os romanos nenhum homem sem testículos poderia
ser aceito como testemunha.[7]
Deve ser ressaltado que
desde Celsus (século I DC) já não se empregava testis
e sim o seu diminutivo testiculus, i.[8]
Por analogia, as gônadas
da mulher também eram chamadas de testículos. A denominação
de ovário só foi introduzida em 1480, por De Gradi, ao verificar
que as mesmas continham ovos, à semelhança do ovário
das aves.[9]
Uma explicação
simples e plausível é a que nos dá Antenor Nascentes.
Os testículos (pequenas testemunhas) são assim chamados porque
"não tomam parte ativa no ato da cópula: apenas a testemunham".[10]
Qualquer que seja a interpretação
que se queira dar, parece evidente que a presença da mesma raiz
nas palavras que designam testemunha e testículo não se deu
por acaso.
Referências bibliográficas
1. DAVIS, J.D. - Dicionário da Bíblia, 2.ed.,
Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1965, p. 350.
2. BÍBLIA DE JERUSALÉM: São Paulo,
Edições Paulinas, 1985 (comentário à pág.
63).
3. LIDDELL, H.G., SCOTT, R. - A greek-english lexicon,
9.ed., Oxford, Claredon Press, 1983.
4. ERNOUT, A., MEILLET, A. - Dictionnaire étymologique
de la langue latine. Histoire des mots, 4.ed. Paris, Ed. Klincksieck, 1979.
5. COROMINAS, J. - Breve diccionario etimológico
de la lengua castellana, 3.ed., Madrid, Ed. Gredos, 1980.
6. HECKLER, E., BACK, S., MASSING, E.R. - Dicionário
morfológico da língua portuguesa. São Leopoldo, Unisinos,
1984.
7. SKINNER, H.A. - The origin of medical terms, 2.ed.
Baltimore, Williams & Wilkins, 1961, p. 400.
8. CELSUS, A.C. - De Medicina. The Loeb Classical Library,
Cambridge, Harvard University Press, vol. 3, 1971, p. 390.
9. LEONARDO, R.A. - History of gynecology. New York,
Froben Press, 1944, p. 183.
10. NASCENTES, A. - Dicionario etimológico resumido.
Rio de Janeiro, INL, 1966.