LINGUAGEM MÉDICA
 

NERVO VAGO OU PNEUMOGÁSTRICO

        Sempre que um mesmo órgão ou elemento anatômico é designado por mais de um nome devemos optar por um deles, em busca da uniformidade que deve existir na linguagem científica. A opção não deve ser a da preferência pessoal de cada um; deve basear-se em algum fundamento histórico ou linguistico, ou em normas de validade internacional.

        Exemplo típico é o do décimo par dos nervos cranianos, ora chamado vago, ora pneumogástrico. Por que vago?

        Vago, em português, é forma convergente de dois étimos latinos. Do latim vagus provém vago, na acepção de errante, incerto, inconstante, confuso, desordenado. Do latim vacuus resultou vago, com o sentido de vazio, desocupado, não preenchido.

        O nervo recebeu em latim a denominação de vagus, que vagueia, que vai ao acaso, errante. O nervo foi descrito por Marinus, no ano 100 d.C., porém a denominação de vagus foi dada por Domenico de Marchetti (1626-1688), da Universidade de Pádua, que o redescreveu, dividindo-o em 16 partes. Tudo indica que Marchetti teve sua atenção despertada para as variações de trajeto de seus ramos e inspirou-se neste fato para batizá-lo com o nome de vagus.[1]

        Johann Meckel (1724-1774), anatomista alemão, referiu-se posteriormente ao vago como o nervo do pulmão e do estômago, conceito que François Chaussier, em 1807, transpôs para o francês, cunhando o termo pneumogastrique (pneumogástrico, em português).[2]

        Embora o nervo não seja apenas do pulmão e do estômago, a denominação de pneumogástrico, mais erudita, passou a competir com o nome mais antigo de vago.

        Contudo, a Nomina Anatomica manteve a denominação latina de nervus vagus, desde a BNA (Basle Nomina Anatomica), de 1895, [3] até a atual Terminologia Anatomica,  da Federação Internacional de Associações de Anatomistas.[4]  Assim sendo, a opção deve ser por vago e não pneumogástrico.
 

Referências biblliográficas

1. SKINNER, H.A. - The origin of medical terms, 2.ed. Baltimore, Williams , Wilkins, 1961, p. 417
2. MARCOVECCHIO, Enrico - Dizionario etimologico storico dei termini medici. Firenze, Ed. Festina Lente, 1993.
3. PROVENZANO, S. – Nomina Anatomica. Buenos Aires, Lib. El Ateneo Editorial, 1951, p.199.
4. FEDERATIVE COMMITTEE ON ANATOMICAL TERMINOLOGY. - Terminologia Anatomica. Stuttgart, Georg Thieme Verlag, 1998.
  

Publicado no livro Linguagem Médica, 3a. ed., Goiânia, AB Editora e Distribuidora de Livros Ltda, 2004..  

Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina
e-mail: jmrezende@cultura.com.br
http:www.jmrezende.com.br

10/9/2004.