VASO, VAZAR
Não é fácil entender porque se escreve vaso com s e vazar com z. Essa aparente incongruência tem suas raízes etimológicas.
Vaso origina-se do latim vas, vasis; plural vasa, vasorum, através do latim vulgar vasum. [1][2]
Vazar é uma alteração de vaziar, de vazio, do latim vacivus, vago, desocupado. [3]
Na passagem do latim ao português, a consoante medial c, antes de e e de i, transforma-se em z. Ex.: acetu > azedo; vicinu > vizinho; dicere > dizer; facere > fazer. [4]
Por conseguinte, os derivados de vaso, como vasilha, vasilhame, envasar, extravasar, escrevem-se com s, enquanto os cognatos de vazio, como vazar, esvaziar, vazante, vazão, vazamento, devem grafar-se com z.
Assim, nas sufusões
hemorrágicas devemos nos referir ao extravasamento (com s)
de sangue (saída do sangue para fora dos vasos sanguíneos),
ao passo que nas intoxicações por gás de cozinha,
frequentemente noticiadas pela imprensa, ao vazamento (com
z)
do gás (dos botijões ou depósitos) para o ar atmosférico.
Referências bibliográficas
1.. WILLIAMS, E.B. Do latim ao português. Rio de
Janeiro, INL, 1961, p. 132
2. CUNHA, A.G. Dicionário etimológico.
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1982.
3. NASCENTES, A. Dicionário etimológico
da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Liv. Francisco Alves, 1932.
4. COUTINHO, I.L. Pontos de gramática histórica,
5.ed., Rio de Janeiro, Liv. Acadêmica, 1962.
Publicado no livro Linguagem Médica, 3a. ed., Goiânia, AB Editora
e Distribuidora de Livros Ltda, 2004..
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História
da Medicina
e-mail: jmrezende@cultura.com.br
http:www.jmrezende.com.br
10/9/2004.